Rádio Prazer na leitura

domingo, 24 de novembro de 2013

Cativo

Esse conto é baseado em fatos reais, sobre um fato que ocorreu comigo; isso tocou-me muito e resolvi colocar no papel. Sinceramente, ao ver os olhos daquele triste passarinho, com seu biquinho escorado em sua gaiola improvisada de papelão, esperançoso em sua melhora, e ao mesmo tempo triste com sua situação, fiquei muito emocionado; e mais emocionado ainda em saber que algumas horas depois um cachorro o comeu, levando todas esperanças que ele tinha. Imagino que a essas horas ele esteja voando, liberto e feliz, em algum lugar do azul.




Seus olhos eram tristes e seu semblante melancólico demonstrava toda a dor que sentia em estar atirado no chão. Indefeso, sem saber o que fazer, lutava para subir morro acima antes que algum predador chegasse. Levantou os olhos, sua respiração ofegava, estava cansado, sua asa direita machucada o impossibilitava de voar. Com grande esforço ele alcançou a varanda da grande casa onde uma simpática senhora o viu e compadeceu-se dele; ela estendeu sua mão amiga e ele pôde ter alguma esperança. Ela improvisou uma pequena gaiola com papelão e lá o colocou. O compartimento possuía três buracos pequenos para ele poder entrar, e se quisesse, sair. Ela colocou algo para ele comer, porém, enjoado e sem fome, ele recusou. Logo, sentiu-se entediado, queria sair dali, voar, cantar, ser livre, sem estar cativo pelo seu próprio corpo; sua alma queria voar, mas estava presa dentro daquele instrumento físico, agora, praticamente inútil e pronto para ser entregue a algum predador. Era como ele se sentia, mesmo sentindo-se a salvos ali.
Por um instante saiu da pequena caixa e deu uma volta na área da casa simples e mal pintada; arrastava sua asa, precisava de ajuda; ouviu alguém dizer que o levariam a um veterinário, não sabia o que isso significava, mas sentia que planejavam realmente lhe ajudar. Quase sem forças entrou novamente em sua gaiola de papelão, sua asa doía, mas até que era suportável; sentiu-se novamente enjoado e uma tristeza o abate subitamente. Debruçou-se dentro da caixa e colocou seu biquinho no buraco recortado do papelão, deixando-o para fora da gaiola e permaneceu pensativo. Olhou para o céu, o dia estava nublado, seu olhos estavam tristes e chorosos; uma pequenina lágrima escorreu de um deles e, em um instante, adormeceu. Ao acordar, sentiu o sol bater em seu rosto e uma estranha alegria o sobressaltou. Estranhamente ele sabia que logo estaria liberto e poderia voar livremente para onde quisesse. Sua alegria foi tanta que resolveu sair para fora da pequena gaiola em uma desesperada tentativa de voar, mas a dor falou mais alto e a gravidade lhe venceu e ele caiu. Ainda estava pesado e sem forças, uma só asa não poderia trabalhar sozinha e a outra estava num caco só. Arrastou-se até o outro lado da área e aquele estranho sentimento ainda o envolvia. Era um sentimento de liberdade e de alegria e uma paz reinava dentro de si; era como se pudesse sentir o vento batendo em seu rosto enquanto voava pelo céu azul; porém, não estava voando; sua asa estava quebrada.
De repente, uma sombra projetou-se sobre ele e um medo apavorante deu lugar a doce paz que estava sentindo; porém, a sensação de liberdade não havia desaparecido, ainda estava lá, combatendo seu medo e toda a sua tensão.
“Tudo vai ficar bem, acredite, você vai voar, vai ser livre!”
Essa frase não saía de sua cabeça acompanhada de fortes estalidos em seu ouvido. Por um instante sentiu um bafo quente e um fungado mito forte que o sugou brutalmente para algum lugar; sua vistas escureceram e permaneceu assim, por alguns minutos. E depois, o silêncio.
– Maldito cachorro! - Gritou a senhora, enquanto ele se via voando por cima da casa com um grande bando de pássaros coloridos. Todos tinham suas asas quebradas, mas podiam voar, era difícil de entender. Como voavam? E, como ele voava? Sentiu-se abismado. A unica coisa que ele sabia era que a sensação de liberdade concretizara-se e ele estava voando, livre, sem qualquer amarra, e sua asa ainda estava quebrada.

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